Intestino e Insônia


Intestino e insônia. Entendendo a relação:



A cada dia que passa, a correlação intestino x doenças mentais tem ficado mais forte e evidente. Inúmeras pesquisas científicas apontam para esse estado, tendo sido, inclusive, estabelecida as relações fisiopatológicas.

Hábitos de vida modernos, tais como: tipo de parto, tempo de amamentação, escolhas alimentares (excesso de carboidratos refinados, proteínas animais, glúten, alimentos com agrotóxicos, além de conservantes alimentares), hipocloridria, estresse excessivo (altos níveis de cortisol), poluição ambiental, alimentos contaminados com metais pesados, excesso de xenobióticos e uso de medicamentos (corticóides, antiinflamatórios, anticoncepcionais hormonais, antibióticos recorrentes, inibidores de bomba de prótons, entre outros), contribuem para um DESEQUILÍBRIO no Microbioma Intestinal, reduzindo a concentração de microorganismos que vivem em simbiose (bacterioidetes) e fazendo predominar os microorganismos com potencial patogênico (firmicutes). A este estado de desequilíbrio, damos o nome de DISBIOSE.

Com o passar do tempo, este estado acaba por evoluir para uma HIPERPERMEABILIDADE INTESTINAL, situação em que o tubo digestivo perde a adequada e fisiológica adesão entre as células (evidenciado na figura acima), permitindo a invasão e passagem de toxinas, restos da parede celular de microorganismos, alimentos não digeridos etc. Estes agentes (que não deveriam passar por entre as células), acabam por trazer uma resposta do sistema imune, com migração de células de defesa para o local e produção de citocinas inflamatórias. Tais citocinas e células de defesa, via corrente sanguínea e nervo vago, acabam por romper a integridade da Barreira Hematoencefálica (que protege o cérebro), acarretando um processo inflamatório crônico e insensível que pode funcionar como disparador de inúmeras patologias no Sistema Nervoso Central, tais como: insônia, fadiga crônica, estresse, compulsão alimentar, depressão, síndrome do pânico, autismo, mal de Alzheimer, doença de Parkinson etc.

Mas, e a correlação com a insônia? De onde vem? Importante salientar que, no estado de hiperpermeabilidade intestinal, a ABSORÇÃO DE NUTRIENTES fica muito prejudicada. Com isso, o TRIPTOFANO (aminoácido ingerido a partir de proteínas animais, como carnes, leite e ovos) tem a sua absorção reduzida. Enalteço que o triptofano é o aminoácido precursor da síntese da SEROTONINA (importante neurotransmissor que se relaciona com o controle da ansiedade e a sua deficiência está relacionada aos sintomas de TPM, além de depressão e síndrome do pânico), e da MELATONINA (o hormônio do sono). Mas, se não bastasse essa redução da absorção do triptofano, tudo que é ruim pode PIORAR ainda mais: em estados de inflamação crônica (como a acarretada pela Disbiose e pela Hiperpermeabilidade), além dessa redução da absorção, o pouco que será absorvido entrará por uma Via Metabólica distinta à que pegaria com o organismo saudável; sendo assim, não será sintetizado a Serotonina ou a Melatonina ( a partir do pouco triptofano absorvido), mas sim o Ácido Quirulínico, que tem elevada capacidade de irritação e lesão dos neurônios, da micróglia e dos astrócitos encefálicos, contribuindo para inúmeras desordens e patologias no Sistema Nervoso Central.

Um tratamento de insônia (ou depressão, ou compulsão alimentar) que não contemple uma rigorosa e criteriosa avaliação da permebilidade digestiva estará fadado ao insucesso. Ao se fazer assim, abrange-se apenas a consequência, sem contemplar as causas. Estaria-se diante de uma abordagem em que o uso de sedativos ou hipnóticos nem sempre serão as melhores alternativas e, com o tempo, poderão não causar respostas efetivas ou melhora na qualidade do sono e de vida do indivíduo.